Desenhando Juntos
Sobre mim
As cidades e as trocas
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Em Ercília, para estabelecer as ligações que
orientam a vida da cidade, os habitantes estendem fios entre as arestas das casas, brancos ou pretos
ou cinza ou preto-e-brancos, de acordo com as
relações de parentesco, troca, autoridade, representação. Quando os fios são tantos que
não se pode mais atravessar, os habitantes vão embora: as casas são desmontadas; restam
apenas os fios e os sustentáculos dos fios.

Do costado de um morro, acampados com os
móveis de casa, os prófugos de Ercília olham para o enredo de fios estendidos e os postes que se elevam
na planície. Aquela continua a ser a cidade de
Ercília, e eles não são nada.

Reconstroem Ercília em outro lugar. Tecem
com os fios uma figura semelhante, mas gostariam que fosse mais complicada e ao mesmo tempo mais regular do que a outra. Depois a abandonam e transferem-se juntamente com as casas para ainda mais longe.

Deste modo, viajando-se no território de Ercília,
depara-se com as ruínas de cidades abandonadas, sem as muralhas que não duram, sem os ossos dos mortos que rolam com o vento: teias de aranha de relações intrincadas à procura de uma forma.
Desenho a dois com fios, tensões e camas de gato foi partitura para o vídeo. Dedicado à Ercília, cidade invisível de ítalo Calvino.
Texto: Ítalo Calvino em As Cidades Invisíveis
Mãos: Gabriel Machado e Alessandra França
Ercília
Design